Friday, June 30, 2006

Fitch melhora o rating do Brasil. E daí?



Essa semana saiu nos principais jornais a notícia de que a Fitch elevou a classificaçao do Brasil. Para quem não está habituado, fica difícil entender a importância desses ratings para o mercado financeiro.

Como o propósito do blog é desmistificar esses jargões econômicos, vou aproveitar para falar um pouco desse rating da agência Fitch. As definições abaixo foram adaptadas do site da Fitch no Brasil.

O que aconteceu essa semana é que a Fitch aumentou o rating do Brasil de BB- para BB nos seguintes "quesitos":

Rating Internacional de Crédito de Longo Prazo: O que quer dizer uma nota BB? Quer dizer que o Brasil está no grau especulativo, ou seja, há possibilidade do risco de crédito aumentar, particularmente como resultado de mudanças adversas na economia, ao longo do tempo. Entretanto, alternativas financeiras ou de negócios podem estar disponíveis, possibilitando que os compromissos financeiros sejam honrados.

Rating Nacional de Crédito de Longo Prazo: uma avaliação da qualidade de crédito relativa ao rating do “melhor” risco de crédito dentro de um país. O “melhor” risco será geralmente, embora nem sempre, atribuído para todos os compromissos financeiros emitidos ou garantidos pelo estado soberano. A nota BB denota um risco de crédito relativamente fraco comparado a outros emissores ou emissões do mesmo país. No âmbito do país, a capacidade de pagamento, no prazo esperado, dessas obrigações é incerta e permanece mais vulnerável à mudanças adversas nas condições dos negócios, econômicas ou financeiras ao longo do tempo.

A previsão da Fitch é que a dívida pública externa deva diminuir para abaixo de 10% do PIB até o final de 2006, índice este o menor em mais de 10 anos. Além disso, a agência também chama a atenção à boa administração da inflação pelo Banco Central, o que tem possibilitado que a diminuição gradual da taxa de juros.

No entanto, a Fitch alerta que mais uma melhora no risco soberano somente ocorreria se o país mudasse a dinâmica da dívida, mais notadamente, um crescimento maior do PIB. Cabe ressaltar a importância do relação dívida / PIB neste contexto. Esse indicador, amplamente utilizado em discussões macroeconômicas, quando crescente, pode indicar aos detentores dos títulos públicos, a incapacidade do governo em pagar a dívida (fica claro pelos ratings).

Ora, se o investidor percebe que o investimento não é seguro, tenta automaticamente se proteger, migrando para aplicações com outros ativos como o dólar (com o intuito inclusive de adquirir títulos no exterior), desvalorizando a moeda e causando um impacto relevante com o aumento do preço dos commodities no país.

Leia mais sobre o assunto:
http://biz.yahoo.com/bw/060628/20060628005508.html?.v=1
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u108939.shtml





Monday, June 26, 2006

Varig - uma questão de timing




Será a Varig ainda tem jeito? Aparentemente, os sinais estão melhorando (ainda que aos poucos). As ações da Varig dispararam com o anuncio da VarigLog como interessada na empresa. O curioso é que esta solução estava sendo discutida há meses, e só foi viabilizada depois que a justiça liberou a compra da própria VarigLog na última semana. Isso levanta uma questão: por que a tortura da Varig está sendo prolongada por tanto tempo?

Não vou fazer mais uma análise da situação da Varig neste artigo, pois acho que já foi demasiado discutido em todos os meios de comunicação existentes. Prefiro falar sobre os casos semelhantes que existiram e deixá-los refletir sobre o assunto. Vejamos os principais casos semelhantes:

Pan Am um dos maiores símbolos da aviação americana, a Pan Am acabou em 1991. A empresa aérea tornou-se uma companhia símbolo de inovações que determinaram o modo das atuais aéreas atuarem, como por exemplo: introdução dos jumbos, jets e sistema de reservas computadorizadas. O colapso da Pan Am se deve a fatores como má administração corporativa, indiferença governamental em proteger sua principal companhia aérea internacional e políticas regulatórias deficitárias.

SwissAir A Swissair cresceu por meio de uma estratégia chamada de "Hunter Strategy" (traduzido ao pé da letra, "Estratégia do Caçador") onde passou a adquirir pequenas companhias aéreas para formar a empresa ao invés de formar alianças. Esta estratégia mostrou-se custosa a longo prazo e aliada a problemas de caixa constantes da empresa e repercussões dos atentados de setembro de 2001, a crise culminou com os aviões da Swissair no chão e 38 mil passageiros deixando de embarcar. Viten dias depois, em 22 de outubro, o governo suíço estatizou a empresa que passou a operar com a marca Swiss. Em 2005, ela foi adquirida pela Lufthansa. Um ponto a ser ressaltado é que acabar com a Swissair geraria um conflito entre interesses de vários políticos que eram diretores da empresa.

Air France A Air France foi socorrida em 1994 pelo governo francês qu injetou US$ 4 bilhões na empresa. Nesta época, o governo era dono de 54,4% das ações da AirFrance e o restante era mantido por outros acionistas. As ações do governo foram reduzidas para 44% quando da união com a KLM.

Estes exemplos demonstram que os casos de falência de companhias aéreas são muito semelhantes entre si. Quando incapazes de resolverem seus problemas financeiros, coube ao governo de cada país mensurar a importância dessas empresas e decidir se deveria ajudar ou não. Ora, se o fundo americano que comprou a VarigLog não pode adquirir a Varig por ferir os 20% de capital máximo estrangeiro, quem pode comprar a Varig senão o próprio governo? Não seria uma solução (senão a única que parece viável) o governo comprar a Varig e privatizá-la posteriormente?

A questão é se salvar a Varig é de interesse do governo brasileiro. E se for, o que o governo está esperando para ajudar?


Leia mais sobre a crise da Varig:
Especial Folha: Crise da Varig
Google notícias: Varig

Wednesday, June 21, 2006

Energia III - Tensão e Sinergia




Por que a China deveria restringir seu consumo de energia e preocupar-se com o meio ambiente, se Europa e EUA consumiram toda a energia que precisaram durante seu desenvolvimento?

Energia para crescer e se desenvolver...Uma criança precisa de alimentos que se transformam em energia, para atividades físicas, para ler, escrever, tocar um instrumento, comunicar, etc. Corte esta fonte de energia, e estaremos impedindo que esta criança se desenvolva em sua plenitude. Um país em crescimento necessita de energia, muita energia, e hoje este crescimento está baseado no Petróleo.

Os navios petroleiros do Oriente Médio passam pelo estreito de Malaca para China e Japão. Acontece que a marinha americana controla todo o tráfego destes navios. Dá para notar a pressão exercida pelo "poder da energia" no crescimento da China, Índia, Rússia. Principalmente se for mutuamente excludentes em termos de energia. Esta situação leva a busca de alternativas, mas nem sempre estas alternativas agradam aos "donos da bola". A China obtém 7% de seu petróleo importado do Sudão, onde a mesma investiu 3 bilhões de dolares em infra-estrutura para perfuração de poços. O Irã fornece 13% do petróleo chinês. Perfurações a oeste do mar da China na linha que o Japão considera sua fronteira. O Japão ofereceu maiores vantagens na construção de um óleoduto em direção ao Oriente. A China não gostou. Percebe-se a tensão existente na região.

Caso as tendencias atuais persistam, a China passará de 7 milhões de barris/dia para 14 milhões por volta de 2012. Isso significa encontrar uma nova Arábia Saudita.

O que se fazer?

Acho que devemos criticar, mas também dar exemplos. Estimular seriamente a pesquisa e utilização de fontes renováveis alternativas. Carros menores, mais econômicos, hibridos. Planos e projetos em conjunto com outros países como a China por exemplo, para termos alternativas viáveis a todos. Não estamos falando em substituir totalmente gasolina, gas, óleo. Mas sim, em estabelecer metas e ter uma legislação aplicável para que se consiga manter um crescimento sustentável, procurando estabilizar o outro lado da balança - barril de petróleo. E falando em exemplos, temos o nosso projeto pro-alcool e sua mistura à gasolina. É um case de sucesso, como uma alternativa viável (pode não ser a melhor em vista da área de plantio). Outro é o biodiesel ainda em testes. Vamos usar nossos cientistas e energia para que possamos deixar um legado melhor para aqueles que ainda estão por vir.

[]s

Tuesday, June 20, 2006

Energia II - O grande boom

A implicações da realização desses sonhos são imensas, principalmente para o meio ambiente, senão surgirem alternativas renováveis logo. Estudos realizados pelo Banco Mundial apontam que 16 entre 20 cidades mais poluídas do mundo são chinesas, e que a poluição e degradação custam a China 170 bilhões de dolares por ano (The Economist, 21 de agosto de 2004).

E isto é só a ponta do Iceberg. A China já foi exportadora de petróleo e gás de suas reservas. Em 2003 a China ultrapassou o Japão como o segundo maior importador de petróleo no mundo, depois dos Estados Unidos. Ainda nos dias de hoje temos em torno de 700 milhões dos 1,3 bilhão de chineses vivendo em regiões rurais e que metade deles tendem a ir para as cidades nos próximas duas décadas. Quase que duas vezes nossa população entrando num mundo altamente consumidor, aumentando a demanda por serviços de infra-estrutura (prédios de apartamentos, esgotos, hospitais, transporte, energia elétrica), além de aumentar a demanda por(carros, microondas, etc). Conseguem imaginar as conseqüências disto?

Os Estados Unidos já foram sozinhos os grandes consumidores de petróleo, e durante os anos 70 se juntaram Europa e Japão. O que aconteceu? Crise do Petróleo. Mas o que acontecerá tendo China, Índia e Rússia como grandes consumidores?

Continua...

Monday, June 19, 2006

Energia I -Conflitos e Oportunidades




Faz algum tempo que estamos ouvindo sobre Globalização e acho que continuaremos por muito tempo. Porém existem algumas forças que tendem a atrapalhar este processo, como um obstáculo. De acordo com alguns estudiosos do assunto, não estamos falando de limitações humanas, mas de recursos naturais. Hoje temos milhões de pessoas na Índia, os países da Cortina de Ferro (ex União Soviética), América Latina, China que viviam fora deste mundo globalizado e que agora, que participam e ao mesmo tempo. E imaginem que todas estas pessoas possuem um sonho de possuir bens, como carros, microondas, TVs, refrigeradores e uma série de gadgets que não conseguiria colocar neste blog de tão longa...

Para ilustar a dimensão do problema citarei um exemplo de Pequim (China) há uns 3 anos atrás por volta de 2003/04. Qual a imagem que vem a cabeça? Um monte de pessoas andando de bicicletas pelas ruas. Não é assim? Você ainda pensa assim? Bem, hoje em dia não se vê muitas bicicletas (a não ser que vá a alguma academia). Veremos muitos e muitos carros presos em engarrafamentos. Para se ter uma idéia, saem 30 mil novos carros por mês para as ruas de Pequim!

Qual a conseqüência disto, caso os sonhos dos Chineses, como dos Indianos, Russos, Americanos, virarem realidade, criando um novo estilo de vida (classe média) que será uma consumidora de energia, eletricidade, metais, produtos alimentícios.

Veja também no Asia Times On Line



Continua...

Wednesday, June 14, 2006

O time de 1 bilhão de reais


No último domingo saiu uma matéria na Veja sobre quanto valem os jogadores de futebol da seleção brasileira. Resumindo a história: os titulares somam o total de 856 milhões de reais e somando os reservas esse valor sobe para 1,24 bilhão de reais. A revista chegou a esses valores consultando 5 dos principais empresários de jogadores de futebol brasileiro. Esse valor não é exato, claro, pois pode variar conforme uma séries de fatores c0mo o próprio desempenho na Copa e negociação com clubes, entre outros.
O mais bem avaliado no artigo é o Ronaldinho, com a "modesta" quantia de 290 milhões de reais (por que não R$ 300 milhões logo de uma vez?!). Este valor baseia-se na idade, posição que atua, histórico de lesões, tempo que resta de contrato e, claro, na habilidade do jogador.
O Ronaldo, ainda conforme a revista, valeria R$ 70 milhões, quase 4 vezes menos que o Ronaldinho. Bom, agora uma curiosidade, segue abaixo o ranking dos jogadores de futebol mais bem pagos do mundo segundo a revista France Football:

1º David Beckham (Real Madrid) 25 milhões de euros - (R$ 80,7 milhões)
2º Ronaldo (Real Madrid) 19,6 - (R$ 63,3 milhões)
3º Zinedine Zidane (Real Madrid) 13 - (R$ 42 milhões)
4º Christian Vieri (Inter de Milão) 12 - (R$ 38,8 milhões)
5º Alessandro del Piero (Juventus) 9,5 - (R$ 30,7 milhões)
6º Frank Lampard (Chelsea) 9,4 - (R$ 30,3 milhões)
7º Raúl González (Real Madrid) 9,3 - (R$ 30 milhões)
8º Thierry Henry (Arsenal) 9,2 - (R$ 29,7 milhões)
9º John Terry (Chelsea) 8,6 - (R$ 27,8 milhões)
10º Luis Figo (Real Madrid) 8,5 - (R$ 27,5 milhões)
11º Ruud van Nistelrooy (Manchester United) 8,46 - (R$ 27,3 milhões)
12º Ronaldinho (Barcelona) 8,2 - (R$ 26,5 milhões)
13º Oliver Kahn (Bayern de Munique) 8,095 - (R$ 26,2 milhões)
14º Roy Keane (Manchester United) 7,92 - (R$ 25,7 milhões)
15º Patrick Vieira (Arsenal) 7,8 - (R$ 25,2 milhões)
16º Michael Owen (Real Madrid) 7,5 - (R$ 24,3 milhões)
17º Francesco Totti (Roma) 7,4 - (R$ 23,9 milhões)
18º Sol Campbell (Arsenal) 7,3 - (R$ 2,6 milhões)
19º Michael Ballack (Bayern de Munique) 6,83 - (R$ 22,1 milhões)
20º Rio Ferdinand (Manchester United) 6,42 - (R$ 20,7 milhões)

Cabe ressaltar que esse ranking é da renda total dos jogadores e não só do salário que ganham nos clubes em que jogam. Beckham, Ronaldo e Zidane possuem salários similares de 6,4 milhões de euros, mas o inglês sai na frente porque tem vantagem devido à publicidade, venda de livros e exclusivas com a imprensa. Ronaldinho recebe um salário de 4,2 milhões de euros.

Daí podemos calcular qual o potencial dos craques. Enquanto o valor calculado pela Veja para Ronaldo é de 70 milhões de reais (muito próximo a sua renda atual de 64 milhões de reais), o valor de Ronaldinho é praticamente 10 vezes sua renda. Isso quer dizer que o craque não está utilizando todo o seu potencial de merchandising ainda. Vamos ver.

Sunday, June 11, 2006

Quem vota no Lula?

Não é raro deparar-me com a seguinte pergunta quando a discussão gira em torno de política: como pode o Lula ser presidente do Brasil se nunca encontramos alguém que votou nele? Visão esta equivocada, uma vez que este "nunca encontramos alguém" normalmente restringe-se a uma classe de pessoas que com certeza não faz parte da grande realidade brasileira. Ora, está certo, o presidente vira e mexe aparece fazendo um comentário infeliz (como o fato do Ronaldo estar gordo) mas existem inúmeras evidências que o governo Lula agrada, sim, à grande massa brasileira.

Abaixo vemos a pesquisa publicada pela Datafolha em 30 de maio de 2006:

Afinal, quem são essas pessoas que votam no Lula?! Conforme o Datafolha, são pessoas que acreditam nos projetos e propostas na área social. Ainda conforme a pesquisa, os principais projetos mencionados são: Bolsa Família (mencionado por 14%), Bolsa Escola (10% de menções) e Fome Zero (4%), entre outros.

As menções ao desempenho na área social chegam a 35% no Nordeste (região onde a intenção de voto no petista chega a 60%) e ficam abaixo da média no Sul (18%) e no Sudeste (19%).

11% das pessoas justificam o voto devido a política salarial, dentre os quais 4% se referem especificamente ao aumento do salário mínimo. O desempenho na criação de empregos é citado por 8% das pessoas.

Ora, conforme a matéria "Renda chinesa aquece a economia e ameaça contas" da Folha de São Paulo de hoje, entre 2001 e 2004:

  • Os 10% mais miseráveis do país viram sua renda subir 23,3%.
  • Os 20% mais pobres, cerca de 15%.

Como se explica essa melhoria na renda dos mais probres? Claro, programas como o Bolsa-Família, o aumento do salário mínimo, os benefícios fortemente subsidiados pagos pela Previdência, a criação de empregos.

O país paga mensalmente cerca de 30 milhões de contracheques para pessoas incluídas em programas totalmente subsidiados, como o Bolsa-Família, ou fortemente subsidiados e indexados ao mínimo, como os de renda mensal vitalícia, aposentadorias rurais e os que fazem parte da Lei Orgânica da Assistência Social.

Bom, respondemos em parte quem vota no Lula para presidente. A melhoria da distribuição de renda sem dúvida é um passo admirável, no entanto, precisamos pensar nas consequencias desse crescimento baseado em subsídios (aumento do consumo devido a melhoria de renda) em detrimento do aumento de investimentos no país.

Essa é uma questão para o próximo dia.