Saturday, September 09, 2006

Brasil - número 38 no ranking de competitividade

Essa semana gostaria de comentar um pouco sobre o ranking de competitividade elaborado pela Fiesp com 43 países, onde o Brasil se encontra atualmente na posição de número 38 (na frente apenas de Filipinas, Colômbia, Turquia, Índia e Indonésia). Embora todo estudo esteja passível de críticas, acredito ser de extrema importância colocarmos em pauta o assunto "competitividade", principalmente em tempos onde a falta da mesma causa demissões em massa como na Volks.
A defininição da Fiesp sobre competitividade é : "Competitividade é a capacidade de um país de criar condições para que as empresas nele instaladas produzam o maior bem estar possível para seus cidadãos e que façam-no crescer ao longo do tempo em relação ao dos cidadãos de outros países. Envolve, portanto, um conjunto de fatores que devem ser orientados à construção de vantagens competitivas, tais como: Economia Doméstica, Governo, Capital, Infra-Estrutura, Tecnologia, Comércio Internacional, Empresarial e Capital Humano."

Para atribuir notas aos países, o índice avalia 83 indicadores de 43 economias. Os 83 indicadores avaliam desde a situação econômica doméstica e o grau de abertura comercial até as condições de financiamento privado e público e os indicadores sociais. Segundo o diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, a valorização da taxa do câmbio, a alta carga tributária e os juros elevados foram os responsáveis pelo baixo resultado do país. Mesmo assim, o Brasil conseguiu subir um degrau no ranking (no ano passado estava em trigésimo nono lugar) devido a um incremento no comércio internacional, que vem crescendo nos últimos anos. Entre os fatores que contribuíram para esse novo cenário, Roriz destaca a diminuição dos spreads bancários, o leve aumento da produtividade na indústria e na agricultura e os investimentos – estes, no entanto, ainda bem aquém da média dos países selecionados. Embora os spreads e os juros venham caindo, seu valor ainda é superior em relação aos países analisados. Os juros para empréstimos de curto prazo, em 2004, oscilaram em torno de 54,7, ante 6,3% dos países que integram o Índice. Mesmo no bloco das nações menos competitivas, do qual o Brasil faz parte, essa média oscilou em 11,3% ao ano. “A utilização de juros altos como único instrumento de combate à inflação tem sérias conseqüências sobre a competitividade: inibe o desenvolvimento do crédito, e conseqüentemente, o investimento privado”, explicou Roriz.
O estudo ainda analisa os principais fatores de competitividade e chega à seguinte conclusão em relação o Brasil:
    • Ambiente de negócios: tem sido marcado pela instalibilidade, alto custo, e portanto, baixa expectativa de crescimento, o que inibe investimentos e reduz gastos sociais;
    • Comércio internacional: melhora na balança comercial com predominância de commodities (fruto de vantagens comparativas) e manufatura de baixo valor agregado;
    • Produtividade: dadas as baixas taxas de crescimento da produtividade total e principalmente industrial, o gap frente aos países de competitividade elevada tem aumentado, e estamos sendo alcançados pelos países selecionados (República Tcheca, Hungria, Polônia, Rússia, Coréia, Tailândia, China, Malásia, Índia, Indonésia e Africa do Sul);
    • Recursos Humanos: significativa evolução do IDH e indicadores de educação: taxas de matrícula, alfabetização e escolaridade;
    • Tecnologia: gastos em P&D maiores que a média dos países selecionados e crescente participação de high-tech na pauta, embora menor que nos países selecionados; e
    • Infra-estrutura: apesar de melhor que dos países selecionados, encontra-se muito defasada em relação aos países competitivos.

O curioso é que, aliado a este resultado, no dia 06 de setembro o Banco Mundial divulgou os resultados de uma pesquisa em que classifica o Brasil como o quarto pior país para realizar negócios na América Latina. O Brasil é o país latino-americano onde mais demora para se abrir um negócio: em média 152 dias, prazo este cinco vezes o necessário no México ou no Chile. Entre os países da América Latina, o Brasil também é o país onde se paga a maior quantidade de encargos trabalhistas e onde se gasta mais horas do ano pagando impostos. Em média, uma empresa gasta 2,6 mil horas por ano envolvida com as burocracias de pagar taxas, mais de quatro vezes o tempo necessário na Argentina.

Hoje eu lia uma matéria na Veja sobre comportamento que dizia que não é possível definir a personalidade de uma pessoa somente pelo DNA ou somente pelo ambiente de criação. Estes dois fatores são, na realidade, inseparáveis e fundamentais na formação de nossa personalidade. O mesmo ocorre com a competitividade: não é possível dizer que seremos mais competitivos somente cortando taxas de juros e spreads bancários, mas sim por meio de ações conjuntas: investimento em infra-estrutura, educação, câmbio competitivo entre outros fatores. Embora cada um seja fundamental, não é fácil definir o quanto cada um influi na "personalidade" de nossa Economia e qual a prioridade.

Dica para o Estudante:

1 comment:

Marcello said...

As reformas em nosso país não saem do papel por mais que se fale. Sem reforma fiscal para acabar com o imposto em cascata, só para exemplificar, fica difícil melhorar nossa competitividade. Sem reformas na infraestrutura modal de transportes (não impondo pedágios que conhecemos) ficamos com nossos custos altos. Sem reforma na educação, não teremos uma geração de engenheiros, médicos, cientistas, etc para fazerem revoluções tecnológicas e melhorarem processos nas empresas.
Vamos votar corretamente!