Thursday, August 31, 2006

COPOM corta a SELIC em 0,5% e PIB cresce somente 0.5% no segundo trimestre

O assunto em voga na quarta-feira dia 30 de agosto, última reunião do Copom antes das eleições, foi o corte da taxa de juros SELIC em 0,5%. A surpresa vem do fato de que o Banco Central havia sinalizado em sua última reunião da ata do Copom, "maior parcimônia" (para quem não entendeu, parcimônia quer dizer moderação). O processo de redução da taxa de juros começou em setembro do ano passado, sendo que na época, a Selic passou de 19,75% para 19,5% ao ano. Embasados na "parcimônia" do governo, analistas projetaram em sua maioria uma queda de 0.5 ponto percentual na SELIC (pesquisa da Reuters na semana passada mostrou que 16 de 20 analistas projetavam redução de 0,25 ponto percentual. Os demais previam corte de 0,5 ponto). O fator que mais justifica o menor conservadorismo do Banco Central é a tendência de queda da inflação que deve ficar abaixo da meta de 4.5% estipulada.

A queda na taxa de juros é um assunto polêmico e sua queda é defendida fortemente pelos setores do comércio, indústria e sindicatos. No entanto, a decisão não agradou a setores do comércio, indústria e sindicatos. A Fiesp considerou a queda como uma manutenção "do seu ritmo tímido e não compromissado com crescimento já". Apesar de aplaudir as sucessivas quedas na Selic, o presidente da Fecomercio diz que o varejo ainda espera uma ação do governo que amplifique a competição entre os bancos e permita reduzir os juros para o consumidor e para as empresas. O presidente nacional da CUT disse que "o Copom permanece insensível aos apelos dos trabalhadores e mantém a política conta-gotas que o caracteriza". Para o sindicalista, a redução de 0,5 ponto é tímida. O presidente da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, Juruna, disse que o governo voltou a "decepcionar o movimento sindical, cujos dirigentes aguardavam uma intervenção radical para diminuir a taxa Selic e assim reativar a economia e iniciar o processo rápido de geração de emprego e renda".
Aliado a tudo isso, foi divulgado pelo IBGE que o PIB registrou uma expansão de 0,5% no segundo trimestre em relação aos três primeiros meses deste ano, dempenho este o pior desde o terceiro trimestre de 2005. Segundo a Folha de São Paulo, diversos representantes do governo atribuíram a queda na atividade industrial e no comércio a fatores pontuais no segundo trimestre ao número menor de dias úteis e a paralisações em razão de jogos da Copa do Mundo e de greves. Analistas do mercado, no entanto, reforçam que a taxa de investimentos aquém da necessária ainda é o principal fator a inibir um crescimento econômico mais vigoroso no país. Além disso, houve o efeito da apreciação cambial sobre as empresas exportadoras. Conforme Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores, lembra 'Há que se reconhecer o papel desempenhado pela forte apreciação cambial no primeiro semestre (15% sobre o mesmo período do ano passado), tendo em vista que tal situação tem influenciado negativamente o faturamento das firmas exportadoras, provocado maior substituição de produção doméstica por produtos importados e diminuído a capacidade de investimento dessas empresas.'
Embora o Bacen, às vésperas da eleição tenha mostrado uma postura um pouco menos conservadora em relação às taxas de juros, este comportamento se explica principalmente devido as perspectivas positivas em relação à meta de inflação. Isso demonstra que o governo ainda está extremamente preocupado com o controle da inflação e pouco preocupado com o crescimento. O ministro Guido Mantega continua otimista e diz que mantém a previsão de crescimento de 4%. Para ele, a desaceleração na Economia deve-se a Copa do Mundo em junho, os atos praticados pelo PCC, afetando principalmente o comércio e greve dos fiscais da Receita Federal. A lição disso tudo não é descobrir quem são os culpados pelo recuo, mas projetar para o futuro um crescimento mais agressivo.
------------------------------------------------------------------------------------------------

DICA PARA O ESTUDANTE:

Este blog também é muito visitado por estudantes de Economia, por isso àqueles que queiram entender um pouco mais sobre os efeitos de uma redução na taxa de juros, segue um trecho de um Especial publicado no site da Folha de São Paulo. Também aconselho o acompanhamento no site do Bacen das atas do Copom e o entendimento do Sistema de Metas de Inflação. Para os economistas ortodoxos, tentar entender como funcionam ferramentas como a IS-LM neste caso.

"A redução dos juros, o Banco Central diminui a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Assim, começa a "sobrar" um pouco mais de dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo.É por isso que os empresários pedem corte nas taxas, para viabilizar investimentos.

Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos da renda fixa para a Bolsa de Valores. É também por esse motivo que as Bolsas sobem em Wall Street ao menor sinal do Federal Reserve (BC dos EUA) de que os juros possam cair.Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida suga como um ralo o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo."

------------------------------------------------------------------------------------

6 comments:

Anonymous said...

eu fico pensando qual seria o impacto de se cortar 2% ou 5% diretos destes juros??? são catastróficos??? pq os caras cortar 0,25% ou 0,5% parecendo que estão tirando o figado deles...

Marcello said...

O fato é que o Governo e até mesmo o brasileiro de forma geral tem o fantasma da inflação na cabeça e por isso o Governo tende a controlar mais a inflação através dos juros do que criar mais oportunidades para que as empresas possam atrair mais investimentos. Sem contar que (outro problema) os dolares que entram aqui, derrubam a cotação da moeda e elevam o custo dos nossos produtos em relação ao mercado internacional.

Anonymous said...

Resumindo se correr o bicho pega se ficar o bicho come? ai nao da nem motivação.. o nao pode fazer nada.. se deixa os juros altos acaba com os investimentos na área privada e destroi o crescimento economico... se abaixa os juros aumentam os investimentos porem com a injeção de mais dolares no mercado eleva custos e diminui a competitividade do Brasil no exterior... eh uma sacanagem isso sim... acho que eh tudo culpa dos economistas hehehehehehehe =P

Claudia said...

Leonardo, veja o resultado da queda de juros já afetando o mercado financerio...Segue notícia de hoje, sexta (01 de setembro de 2006) publicada no site especializado http://www.infomoney.com.br

"Marcada pelo anúncio de uma série de importantes indicadores e eventos econômicos, a última semana foi positiva para o mercado brasileiro de renda variável. Em recuperação, o Ibovespa acumulou ganhos de 3,81%, encerrando o período aos 37.329 pontos. (...) Além disso, lembrando que a redução dos juros beneficia o crescimento do crédito e do consumo, avalia-se que as empresas dos segmentos de varejo e imobiliário também podem se apresentar como uma interessante alternativa de investimento."

O medo de cortar abruptamente o juros e que isso gere consumo exagerado, criando inflação. Mas como crescer assim??

Bjs

Anonymous said...

É complicado, mas também se houver um corte muito alto nos juros haverá uma fuga de capital, pois aqui no Brasil o investimento "de fora" não tem um tempo mínimo de permanência, o que afetaria o câmbio, e já consigo ouvir os importadores gritando...além da possível inflação, o investimento real, aquele que gera riqueza, investimento produtivo, leva tempo, um corte abrupto no JU, acho eu, não seria também a melhor saída.
Com os juros menores incentivasse o investimento privado, gera-se empregos, mas isso é a médio prazo, o medo é a inflação nesse meio tempo.

Claudia said...

Lauro, você está certíssimo. A questão não é fácil. Os analistas do mercado já esperam que o Bacen volte a seguir sua regra de parcimônia e projetam para a próxima reunião um corte de 0,25%.