Saturday, November 25, 2006

Doença Holandesa no Brasil

Um assunto em particular tem chamado a minha atenção nas últimas semanas: a discussão que tem acontecido em função da preocupação de que esteja ocorrendo o fenômeno da Doença Holandesa no Brasil. Para os mais desavisados, calma: não tem nada haver com epidemias como a doença da vaca louca ou a gripe aviária. A preocupação está no fato de se supor que exportar é o suficiente para acumular conhecimento e gerar crescimento.
O que é a Doença Holandesa Basicamente, o conceito econômico tenta explicar a relação entre a exploração de recursos naturais e o declínio do setor manufatureiro. O termo foi formulado por uma dupla de economistas na revista The Economist em 1977 para descrever o declínio da indústria manufatureira na Holanda após a descoberta de gás natural. A teoria diz que um aumento de receita decorrente da exportação de recursos naturais irá desendustrializar uma nação devido à valorização cambial, que torna o setor manufatureiro menos competitivo aos produtos externos.
É, porém, muito difícil dizer com exatidão que a doença holandesa é a causa do declínio do setor manufatureiro porque existem muitos outros fatores econômicos a se levar em consideração. Embora seja mais comumente usado em referência à descoberta de recursos naturais, pode também se referir a "qualquer desenvolvimento que resulte em um grande fluxo de entrada de moeda estrangeira, incluindo aumentos repentinos de preços dos recursos naturais, assitência internacional ou volumosos investimentos estrangeiros.
Bens não comercializáveis Essa semana saiu um artigo do professor da FGV, Paulo Gala, na Gazeta Mercantil que discute a ameaça da Doença Holandesa no Brasil e a especialização em bens não comercializáveis causada pela apreciação cambial. Para esclarecer: bens não comercializáveis são produtos que, quer por sua própria natureza, quer devido aos altos custos de transporte por unidade de produto, tarifas elevadas ou outros tipos de restrição não podem ser comercializados no exterior. Exemplos de bens não comercializáveis internacionalmente podem ser encontrados no setor da habitação, de geração de energia, de transporte, de serviços educacionais, de serviços pessoais etc.
Gala argumenta que "a apreciação cambial decorrente da exportação dos recursos naturais com base em rendas econômicas dificulta ou, no limite, torna impossível a produção dos bens comercializáveis (exportáveis) agrícolas e, especialmente, manufaturados que tenham maior potencial de inovações tecnológicas e ganhos de produtividade". Ou seja, em outras palavras, produtos de valor agregado que efetivamente fazer o PIB do país crescer. Ainda segundo Gala, "o setor de recursos naturais ocupa o espaço da produção agrícola e de manufaturas num processo de expulsão e destruição de empresas e empregos. Capital e trabalho são deslocados para a extração de recursos naturais e produção de bens não comercializáveis. A indústria volta-se para o mercado interno, especializando-se na produção de bens não comercializáveis que apresentam maior rentabilidade graças à apreciação cambial.
Como não ser contaminado? No artigo, o professor divide os países em desenvolvimento em 2 categorias: "aqueles que perseguem um superávit no setor de manufaturas por necessidade de importação de outros tipos de bens e aqueles que, apesar de abundantes em recursos naturais, perseguem uma estratégia de industrialização e exportação de manufaturas." Na segunda categoria, encontram-se países como Malásia, Indonésia e Tailândia. Além disso, ele ressalta também que é necessário que haja ausência de fluxos de capital decorrentes de endividamente externo.

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Saturday, November 18, 2006

Uma Nova Geração de Idosos

Estamos vivenciando grandes mudanças na sociedade, onde graças aos avanços na tecnológicos que ocorrem sobre diversas áreas, tem se refletido diretamente em nossa longevidade. Os alimentos são melhorados e enriquecidos de vitaminas e minerais necessários pelo nosso organismo; novos medicamentos que estimulam, promovem a cura ou permitem uma sobrevida a um custo muitas vezes subsidiado pelo governo; terapias alternativas e milenares; exercícios físicos; controle de pestes e saneamento. Com todas essas melhorias fica evidente que nações desenvolvidas ou em desenvolvimento tiveram um aumento sensível em sua expectativa de vida.

Teremos vigor aos 110 ou 120 anos de idade

Com todas essas mudanças acontecendo, fica evidente que novas regras para aposentadoria deverão ser criadas. Sem mencionar o fato do decréscimo de nascimentos (menor que 2,1 filhos por mulher) que é base para se manter um equilíbrio na previdência. Por outro lado, uma pressão grande por parte dos aposentados para não parar de trabalhar. Muitas vezes por necessidade, uma vez que sua aposentadoria é insuficiente para mantê-los sem qualquer outra fonte de renda.
Pode parecer que estes efeitos da população envelhecendo demorarão a acontecer, mas estamos enganados, uma que esta relação não é linear e sim logarítmica. Nos Estados Unidos houve um boom de nascimentos em 1960, e nas décadas de 80 e 90 tivemos o "adolescente global" e o que virá a seguir será uma explosão de idosos.

Qual será o impacto dessas mudanças?

O ambiente de trabalho será diferente, onde as empresas começarão aceitar pessoas mais velhas ao invés de rejeitá-las - para se protegerem de processos legais e para melhorarem a eficiência de suas equipes. Isto é fato e já está ocorrendo. Pessoas com mais de 55 anos correspondem a 10% da força de trabalho nos Estados Unidos e segundo estimativas houve um crescimento de 22% desde 1995. A General Eletric por exemplo possui um programa chamado de "Oportunidade de Ouro" onde aposentados da empresa podem trabalhar até 1000 horas por ano.

Mudança de paradigma

A relutância em se contratar pessoas mais velhas se deve ao fato que se aposentariam pouco tempo depois. Logo se não tinham muito futuro, por que investir nelas? Mas a mudança de paradigma está justamente no fato que sua pessoa saudável se sente e vive como se tivesse 40 anos até os 95 anos, então é possível contratá-la aos 60 e mantê-la na empresa durante 25 anos ou mais. Hoje já existem pessoas aposentadas (até pais de amigos meus) que permanecem em seus empregos 15 anos ou mais após terem se aposentado.

A onda dos idosos

As pessoas continuarão trabalhando até quando ainda estiverem saudáveis e manterão sua produtividade comparável à dos mais jovens. Ainda assim terão fonte de renda proveniente de salários e de investimentos que fazem como complemento de aposentadoria, por exemplo. Demandarão novos serviços voltados às suas necessidades, criando oportunidades para o mercado de serviços, seguros e bem estar. As ramificações dessas mudanças certamente terão impacto na sociedade, governo e serviços.

Veja também:

Políticas demográficas no Brasil

Baby Boom

O Nascimento de uma Velha Geração

Sunday, November 12, 2006

Proposta 87

Como o leitor já deve saber, no dia 07 de novembro de 2006 ocorreram as eleições parlamentares nos EUA e, após 12 anos, os republicanos perderam o controle da Câmara dos Representantes e do Senado. Pensei, então, em falar sobre essas eleições, mas durante as pesquisas, outro assunto chamou a minha atenção: a Proposta 87. O assunto me chamou a atenção por ser extremamente relacionado aos tópicos que temos discutido aqui no blog: energia elétrica, fontes alternativas de energia, etanol, etc.

Proposta 87 Os democratas possuem uma abordagem diferente para áreas como saúde, energia (incluindo mais ênfase a fontes de energia alternativas) que os republicanos possuem. Um exemplo claro disso é o empenho de figuras como o ex-presidente democrata Bill Clinton, defensor da chamada proposta 87 que foi votada no dia 07 de novembro inclusive. No comercial, veiculado recentemente nos EUA, ele afirma: "Imagine se conseguíssemos deixar de ser dependentes do petróleo internacional. O Brasil conseguiu. Eles fizeram uma simples mudança em seus carros. Mudaram para etanol, fabricado no próprio país. E é 33% mais barato que a gasolina (...) Se o Brasil pode fazê-lo, a Califórnia também pode". A questão a ser votada na Proposta foi a seguinte: "deveria a California estabelecer um programa de 4 bilhões de dólares em um programa de Energia Alternativa Limpa com o intuito de reduzir o consumo de diesel e gasolina em 25% por meio de incentivos a energia alternativa, educação e treinamento?"

O resultado A proposta, que recebeu mais de 3 milhões de votos, não foi vencedora. O resultado foi de 55% para não e 45% para sim. No entanto, isso não é visto como uma total derrota da emenda. A proposta criou suporte e debate o suficiente para chamar a atenção sobre o tema: energia alternativa. Mesmo os que não defenderam a proposta, entendem a necessidade de se desenvolver fontes alternativas. Scott McDonald, por exemplo, diretor de comunicações do "Californians Against Higher Taxes": "Energia alternativa não é a questão. Se você não entende a necessidade de se desenvolver energia alternativa, você precisa entrar de cabeça no assunto. É crítico."

A oportunidade De acordo com a VentureOne, as venture capitals investiram mais de $1.5 bilhão de dólares nos EUA em empresas de teconlogia limpa. in clean-tech companies e, de acordo com Cleantech Venture Networks, espera-se que os investimentos nas chamadas "green technologies" cresça mais do que para $10 bilhões ao ano nos próximos 3 anos somente na América do Norte.



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Thursday, November 09, 2006

Previdência em foco

As eleições já se passaram e sabemos que nosso governante tem muito o que fazer. O país precisa crescer, educar seus filhos, equilibrar suas contas, melhorar o sistema público de saúde, segurança, etc. Enfim são tantas coisas que me faz lembrar uma cena circense onde o artista precisa manter todos os pratos girando equilibrados numa vara para não cair e quebrar. Gostaria de falar um pouco de assunto que incomoda não só o Brasil, mas muitos países: Previdência.


A previdência surgiu como um conjunto de políticas sociais que ampararam o cidadão e sua família em situações como velhice, doença e desemprego. Na época em que foram concebidas, poucas pessoas chegam vivas até a idade de se aposentar, uma vez que a expectativa de vida estava em torno de 60 anos para a década de 50. Com o passar do anos, as pessoas começaram a se alimentar melhor e as novas gerações eram mais saudáveis, passando a desfrutar de suas aposentadorias, amparadas pelas contribuições feitas pelos trabalhadores mais jovens. Antigamente no Brasil, trabalhadores com 30 anos de contribuições poderiam se aposentar, logo se começasse a trabalhar com 15 anos, estaria aposentado antes dos 50 anos de idade. Já dá para imaginar o problema que surgia, na medida em que as pessoas começavam a viver mais com uma expectativa de vida de 65 anos ou mais. Mas não basta apenas a expectativa de vida ter melhorado (o que é muito bom), mas também a taxa de natalidade deve se manter adequada para que o equilíbrio entre pessoas que trabalham e contribuem para previdência e as pessoas que usufruem dos benefícios.


O Brasil estará experimentando nos próximas anos o que aconteceu na Europa, nos Estados Unidos e Japão, que tiveram um crescimento econômico revertido num melhor padrão de vida da população, acesso a medicamentos e baixa mortalidade infantil. Os casais estão passando a planejar quando ter um filho, que geralmente está ficando para mais tarde. Isto faz com que haja um desequilíbrio grande entre as gerações novas e aquelas que estão envelhecendo. Isto torna necessário uma mudança das regras, como por exemplo, a idade da aposentadoria que tende a aumentar para tentar se equilibrar a conta, diminuindo e até zerando o déficit da Previdência.

Equilibrando as contas

Atualmente o déficit é de 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto) para previdência social (INSS) e de 4 a 5% para os regimes especiais do setor público. Existem vários artigos publicados e várias receitas para se acabar com o déficit da previdência. Segundo um artigo publicado no site da Fazenda, o caminho seria o crescimento médio de 3,4% anual da economia até 2025 para se zerar o déficit. Isto independente dos aumentos no salário mínimo e demais benefícios. Ainda frisa que a gestão previdenciária deve ser bem conduzida.


Existem outros que discordam que haja uma diferença significativa entre as pessoas economicamente ativas e aquelas aposentadas. Segundo elas o Brasil ainda apresenta condições favoráveis ao sistem previdenciário apoiados na idéia que somos um país ainda muito jovem quando comparados com outros países desenvolvidos. Segundo pesquisas realizadas apontam que existem 32 milhões de trabalhadores informais, que não contribuem para a previdência.
Logo apontam que o governo deve atuar incisivamente para formalização do trabalho. E as pessoas "excluídas" não possuem direitos sociais.


Outra teoria, aceita por muitos empresários, apoiam o aumento da idade de aposentadoria gradual, formalização do trabalho, reajustes com base na inflação para não se perder o poder de compra e taxas de juros mais baixas para promover o crescimento, como uma alavanca para se gerar mais empregos e pessoas participantes do sistema previdenciário.


A previdência continuará a ser foco não apenas deste governo, mas de muitos outros que virão. Muitas pesquisas tem sido feitas para se chegar a um denominador comum, apoiando ações que serão tomadas para que as políticas sociais que amparam nossos trabalhadores continuem porém sem afetar o equilíbrio e quebrar a previdência.

Veja também:

Crescimento pode resolver o déficit da Previdência

Envelhecimento não é causa de crise na previdência

Cenários - As Surpresas Inevitáveis de Peter Schwartz (livro)

Monday, November 06, 2006

Democracia à brasileira

Cheguei a conclusão que é muito bom e muito fácil ser político ou administrador público no Brasil:
Praticamente não existem responsabilidades e obrigações e os direitos e privilégios são incomensuráveis (não vou perder meu tempo e tomar o seu citando-0s. Você sabe melhor que eu quais são eles).

E no caso das obrigações, as que existem são espertamente transferidas para os ombros do cidadão, através de leis oportunistas e sem sentido, aumentando ainda mais o peso do estado no dia-a-dia das pessoas, engessando o desenvolvimento econômico, tirando nossa competitividade, sujando nossa imagem no exterior, produzindo corrupção e criminalidade.

É pouco ou quer mais ????

Vejam alguns exemplos do que estou dizendo:

Em São Paulo vivemos a sabe-se lá quanto tempo com uma aberração chamada de "rodízio de veículos", que proíbe quem tenha automóvel de poder circular pelo chamado "centro expandido" da cidade um dia por semana, durante o horário do rush, justamente o horário em que mais se precisa de carro.

O argumento criado pelo governo do estado de São Paulo para esse verdadeiro crime contra o direito de "ir-e-vir" dos paulistanos é de que era necessário se implantar uma lei que restringisse a circulação de carros pelo centro da cidade para melhorar o trânsito, caso o contrário, a cidade correria o risco de parar.

Mas ninguém do governo disse que os paulistanos são obrigados a tirar seus carros da garagem porque não há transporte público de qualidade para todos, como acontece em outras cidades do mundo: resultado da falta de investimento do estado na ampliação do transporte público e da malha viária da cidade; há também a total inexistência de uma fiscalização decente, que tire das ruas carros e caminhões sem condições de trafegar e que já deveriam estar num ferro velho há muito tempo (conforme determina a legislação de trânsito brasileira).
Por isso, como é mais fácil e lógico, mais lucrativo, manter um rodízio de veículos do que investir em infra-estrutura que permita à cidade funcionar com mais eficiência e menos poluição, o governo nos impede de usufruirmos de um direito previsto na constituição, jogando para nós a responsabilidade por um problema que eles têm a obrigação de resolver.

Outro exemplo: Também em São Paulo, há coisa de uns dois meses, a câmara de vereadores aprovou uma nova lei que proibe toda e qualquer propaganda na cidade.

Já falei sobre isso antes, mas só para complementar, descobri que já havia uma lei aprovada em 2003 que regulamentava a atividade de mídia exterior na cidade, com normas para afixação de outdoors, cartazes, faixas, etc. Essa lei prevê a manutenção da atividade de publicidade na cidade (um direito das empresas e do cidadão) e a obrigação da prefeitura em fiscalizar qualquer atividade irregular realizada no ambiente urbano.

Pois alguém nessa história não vem cumprindo com suas obrigações desde que essa lei foi promulgada: e não são as empresas legalmente estabelecidas. Adivinhem quem é ?
Ou seja, se a prefeitura não tem competência para fazer aquilo que é de sua alçada, melhor mudar a lei e proibir logo tudo de uma vez.
Tudo bem que, quem está desrespeitando a lei não tem registro e tampouco pode ser facilmente identificado, mas sempre há aqueles que têm endereço físico e pagam impostos regularmente. Afinal de contas, como mandar uma multa de R$ 10.000 para quem não existe, não é mesmo ?
Assim, diminui-se a "poluição visual" e ainda "ganha-se um troquinho a mais".
Beleza !!!!

Querem outro exemplo ?
O que vimos nessas duas últimas semanas nos aeroportos do país é o retrato da incompetência e do descaso de um governo preocupado única e exclusivamente em se auto-promover, ao invés de trabalhar para desenvolver a infra-estrutura do país e permiti-lo ingressar em pé de igualdade no cenário externo com os demais concorrentes (pretendo falar sobre o caos da infra-estrutura brasileira e suas consequências em breve).
Desde 2003 o governo Lula vêm sendo alertado sobre o risco de um "apagão aéreo", mas ao invés de investir na contratação e na formação de novos controladores de vôos, no aparelhamento da nossa Força Aérea, assim como nas demais forças armadas, preferiram se preocupar com a questão do superávit e assim conseguir passar ao mundo uma imagem de modernidade e austeridade na condução de nossa econômia.

Os resultados estão aí: Caos nos aeroportos, pessoas aguardando por mais de 20 horas para conseguir chegar aos seus destinos, compromissos perdidos, prejuízos financeiros e morais.
Quem "pagou o pato" ? As companhias aéreas e, claro, os passageiros, tratados como gado.

Pergunto: Qual foi a explicação do governo para isso tudo ?

Não houve nenhuma explicação. Simplesmente porque o governo federal não tem o que explicar. O caos na aviação é resultado de sua irresponsabilidade e portanto, nenhuma justificativa seria aceita nesse caso.
E no fim das contas, quem terá que se adaptar a mais essa novidade no cotidiano do país seremos nós: cidadãos honestos, que mudaremos mais uma vez nossa rotina para podermos cumprir com nossos compromissos.
Pior serão as empresas que investiram milhões na aquisição de aeronaves e contratação de pessoal, preparando-se para o crescimento do volume de passageiros e claro, tiveram prejuízo com toda essa confusão. Prejuízo esse, que eu duvido, será ressarcido algum dia pelo governo. Alguém aí se lembra do caso da Transbrasil ? E da VASP ? Pois é: As empresas vão engolir mais essa, se adaptar à nova realidade e tudo vai "voltar ao normal"...

Mas a notícia campeã dessa semana é o projeto do senador do PSDB mineiro Eduardo Azeredo, que cria controles para acesso à internet no Brasil, obrigando os internautas a se idenficarem junto aos provedores através do fornecimento de informações pessoais como nome, RG, CPF, telefone e endereço (!!!!!!), ficando sob responsabilidade dos provedores (claro que não seria do governo) a manutenção dessas informações. Pela criativa idéia do senador mineiro, essa obrigatoriedade inibirá a ação de hackers e pedófilos, através do uso de identidades falsas. Como se hackers e demais criminosos fossem utilizar suas verdadeiras identidades para cometer crimes na internet...

É claro que essa obra-prima da legislatura brasileira já recebeu diversas críticas, inclusive do próprio executivo, que se manifestou contrário ao projeto, através do ministo Hélio Costa, que se mostrou preocupado com as prováveis consequências no processo de inclusão digital e à atividade dos provedores brasileiros (quem diria...).

E alguns provedores já se manifestaram, avisando que se essa lei for aprovada, simplesmente fecharão suas operações no Brasil e oferecerão acessos por outros países, demitindo pessoal e reduzindo a arrecadação no segmento. (parece que já ouvi essa história antes...)
Mais uma vez o estado brasileiro mostra sua criatividade, tentando transferir uma responsabilidade que é sua para o colo da iniciativa privada. Afinal, a obrigação pela prevenção de crimes na internet e pela punição de quem os comete é do estado e não dos provedores e dos internautas, que não têm poder de polícia, muito menos de justiça.

Ou será que algum parlamentar pensa também em propor a extinção das polícias e da justiça e passa-las para a responsabilidade da população ?

Se isso acontecer, já sei o nome de uma centena de "elementos" que adoraria mandar para o xilindró.
E você ? Tem alguma sugestão ?

Wednesday, November 01, 2006

Relatório Stern - Mudanças Climáticas e Economia

Foi publicado no jornal inglês GuardianUnlimited , no dia 30/10 um artigo sobre os efeitos que as mudanças climáticas, ocasionados pela emissão de gás carbônico, podem causar na economia mundial, bem como as adaptações que deveríamos fazer para que tais efeitos fossem mitigados. O relatório foi feito por Nicholas Stern (conselheiro do Governo sobre desenvolvimento e mudanças climáticas na economia) e tem sido levado a sério pela comunidade internacional e principalmente pelo governo inglês. Será que ainda poderemos viver do mesmo modo que vivemos atualmente? Quais as consequências e o custo disto? É possível experimentarmos um desenvolvimento de nossas economias baseado num crescimento sustentável?

O relatório

Segundo Stern, estamos vivendo um período de aquecimento global onde o aumento médio da temperatura pode chegar 5ºC devido ao acúmulo excessivo de CO2 na atmosfera. Para se ter uma idéia, os níveis de CO2 eram de 280 ppm na era pré-industrial e hoje 430 ppm. E se continuarmos tocando nossos negócios do mesma forma, teremos algo em torno de 850 ppm num futuro muito próximo. As consequências disto não poderiam ser mais devastadoras, como: enchentes, desertificação, pragas, perdas de safras, cidades litorâneas invadidas pelo mar. Os danos causados atingiriam de 5 a 20% porcento do o consumo mundial. E os países mais pobres sofreriam as piores consequências por não terem uma estrutura apropriada e desenvolvida para enfrentar tais mudanças.

O relatório que levou em consideração os recentes estudos sobre os gases do efeito estufa e verificou que os efeitos econômicos em nossa vida e no ambiente poderá chegar a 20% do PIB nos países mais pobres. Por outro lado, os custos para redução da emissão de gases para se evitar impactos desastrosos poderia ser limitado a 1% do PIB global por ano. As pessoas pagariam um pouco mais por bens de uso intensivo de CO2, mas nossas economias poderiam continuar crescendo fortemente.

Ainda de acordo com o relatório as ações que deveremos tomar necessitaria de uma política global guiada por um entendimento internacional com objetivos de longo prazo e uma forma bem estruturada para cooperação. Estes elementos chave para esta estrutura seriam:

Comércio de Carbono (emissões):

  • Expandir o comércio crescente de emissões ao redor do mundo como uma maneira de promover redução efetiva do custo nas emissões com ações em países nos desenvolvimento.
  • Pontos alvo em países ricos poderiam destinar dezenas de bilhões de dolares por ano para suportar a transição para o caminho do desenvolvimento para baixa emissão de carbono.

Cooperação Tecnológica:

  • Acordos formais e informais podem acelerar a efetividade dos investimentos em inovação ao redor do mundo.
  • Globalmente, deveríamos dobrar o suporte para as pesquisas em energia, e quintuplicar pesquisas relativas ao desenvolvimento de baixa emissão de carbono.
  • Cooperação Internacional na criação de padrões de produtos para estimular rapidamente eficiência no uso de energia.

Ações para reduzir o desflorestamento:

  • A perda de florestas naturais no mundo contribui todo ano nas emissões globais mais que o setor de transporte. O controle do desflorestamento e a sua utilização planejada é caminho para se reduzir as emissões.

Adaptação:

  • Os países mais pobres são os mais vulneráveis às mundanças climáticas. É essencial que as políticas de desenvolvimento contemplem este assunto, e que os países ricos aumentem seu suporte.
  • Um fundo internacional deveria também ajudar com informações sobre o impacto da mundaça climática e pesquisa de novas variedades de grãos, frutas, plantações que sejam mais resistentes aos períodos de seca e enchentes.

Os países em desenvolvimento como China, Índia, Rússia, Brasil por exemplo dependem de muita energia para o crescimento de suas economias. A matriz energética em questão está baseada principalmente no petróleo, gás e carvão e contribuem negativamente para emissões de CO2. Mudar esta matriz significa investir muito dinheiro e tempo em pesquisas e viabilizar alternativas como fontes renováveis e de baixa emissão de CO2. Porém, se isto não acontecer os prejuízos a médio e longo prazo serão catastróficos para os mesmos. Logo, não adianta postergar ou fingir que a mudança climática não nos atingirá. O recado foi dado no relatório, sendo que é preciso começar com ações agora para garantirmos um crescimento econômico sustentável nas próximas décadas. Por fim, ainda podemos ver na mudança climática uma oportunidade para desenvolvermos tecnologias de baixa emissão de carbono. Já possuímos o álcool que emite muito menos CO2 que a gasolina, por exemplo. Estima-se que o mercado para tecnologias de baixa emissão de carbono movimentará pelo menos 500 bilhões de dolares ou mais até 2050.

Veja também:

We must pay now to avoid climate disaster, says Blair

Publication of the Stern Review on the Economics of Climate change

Relatório prevê colapso econômico com aquecimento global