Thursday, July 06, 2006

TV DIGITAL - Algumas questões mais...

O Brasil foi o único país emergente onde emissoras e indústrias de equipamentos financiaram testes de laboratório e de campo para comparar a eficiência técnica dos três padrões tecnológicos existentes em relação à transmissão e recepção dos sinais (o modelo estaduninse, o modelo europeu e o modelo japonês). Desde 1994, 17 emissoras de TV e pouco mais de uma dezena de empresas interessadas criaram o grupo SET/Abert. A partir de 1998, o trabalho do consórcio técnico intensificou-se, resultando nos testes de laboratório e de campo por seis meses, entre agosto de 99 e março de 2000, com o aval de especialistas da Universidade Mackenzie. Após o término da fase de estudos o Presidente da República Federativa do Brasil assinou (2006) decreto oficializando o modelo japonês como o padrão de TV digital a ser adotado no Brasil.

Os principais atributos necessários para um sistema digital brasileiro que deveriam ser levados em conta na escolha são: baixo custo com recepção robusta (para atender as classes C, D e E que constituem grande maioria da população brasileira), flexibilidade e interatividade de serviços.

No quesito baixo custo, o Presidente argumentou que a escolha pelo padrão japonês permitiria uma adaptação mais longa do analógico para o digital. Os japoneses se dispuseram a tornar o período de transição mais longo, o que quer dizer que o consumidor pode manter sua televisão antiga por um período mais longo, sem precisar comprar um decodificador do sinal digital ou um aparelho novo já com o equipamento.

No entanto, o que se tem ouvido por aí é que essa conversão pode sair caro para o consumidor brasileiro. O CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) realizou um estudo onde constatou que os conversores feitos para funcionar com o modelo japonês custariam entre R$ 276 e R$ 761. Os lo). Os conversores do padrão europeu custariam entre R$ 233 e R$ 662. O grande "x" da questão é a escala de produção: o padrão europeu é usado em 57 países, e o japonês, só no Japão. Segundo o CPqD, a escolha do governo deveria levar em conta "as perspectivas de mercado, para gerar maior fator de escala de produção, o que influencia diretamente no investimento necessário no setor produtivo e no preço final ao consumidor".

Afinal de contas, quem prefere qual padrão?
  • Redes de TV: preferem o japonês porque querem transmitir em alta definição e para receptores móveis. A transmissão em alta definição não permite a entrada de novos competidores em grandes centros urbanos
  • Operadoras de telefonia: preferem o padrão europeu, porque dá mais oportunidade de negócios para que elas entrem no ramo de transmissão de conteúdoFornecedores de equipamentos: preferem o padrão europeu, porque dá mais ganho de escala, uma vez que é adotado em 57 países .
Novamente, o Presidente Lula argumentou que a escolha pelo padrão japonês trará mais vantagens ao Brasil e às grandes empresas de comunicação do país. Como pudemos ver anteriormente, essas empresas que seriam beneficiadas com o padrão são as grandes redes de TV (em especial a Globo). Essas companhias de televisão ainda dizem que o padrão japonês permitirá maior controle nacional sobre o conteúdo transmitido, e o governo que não é bobo nem nada avalia que é uma decisão estratégica defender os interesses das companhias nacionais. Principalmente em ano de reeleição.
Imagem:
O Presidente Lula e o Ministro da Cultura Gilberto Gil, em Londres em março de 2006. Gil disse na ocasião que o que importava no debate sobre a adoção de um sistema de TV digital no Brasil seria a "discussão do modelo cultural da TV digital".
(Foto: Eduardo Martino/Documentography. Fonte: BBC Brasil)

4 comments:

Anonymous said...

Será que a decisão tomada pelo Lula foi pensando nos benefícios para a população ou atendendo ao poder das Redes de TV contra as Teles ?
Será que este padrão será adotado nos países vizinhos e América Latina?

Enfim, parabéns pelo artigo :)

Claudia said...

Também achei a matéria do Marcello bem esclarecedora. A decisão não poderia ter sido tomada em melhor hora para ele. Até a população perceber que precisa trocar os aparelhos, já passou a eleição.

Quando penso sobre essas tais empresas brasileiras às quais o presidente se refere, me questiono: será que empresas como a CEMIG/ TELEMIG não são tão importantes como o grupo Globo (jornal, televisão, cinema, entre outros), a Record, Rede TV e Band?

Um grande abraço.

Anonymous said...

Legal o artigo.

Minha pergunta é mais básica. Por que o governo precisa escolher um padrão? Por que não deixar o mercado decidir? Nós confiamos mais no Lula do que em 200 milhões de residentes brasileiros?

Marcello said...

Agradeço pelo comentário feito. Segundo, foi publicado que o Governo utilizou-se de cientistas para validar qual seria o melhor padrão, inclusive envolvendo a universidade Mackenzie. Talvez tenha faltado uma melhor comunicação, mas essa também foi uma decisão estratégica. Se foi errada ou não, veremos daqui algum tempo. Porém, foi importante para colocar o Brasil em sintonia com os países que já possuem esta tecnologia e ainda influenciar nossos países vizinhos.

Para ter acesso a algumas informações interessantes e troca de farpas entre os fornecedores europeus e japoneses, veja:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u106452.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u105780.shtml